sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Yucca Mountain, o fabuloso depósito nuclear para os próximos 10 mil anos


Monumentos históricos datados de milhares de anos; verdadeiros patrimônios da humanidade. As pirâmides do Egito, as edificações Maia ou quaisquer outros resquícios de antigas civilizações ainda levam a imaginação humana às alturas.

Então o que dizer de uma montanha que, em suas entranhas, guardaria toneladas de lixo radioativo? Este foi o mirabolante projeto do governo dos EUA destinado ao armazenamento de entulhos tóxicos – e a estrutura teria a data de validade de nada menos que 10 mil anos.

A história começa em 1983: na época, um décimo de centavo de cada cidadão norte-americano começou a ser cobrado. O objetivo era nobre: desembolsando a pequena quantia, que era cobrada através de contas de luz, estadunidenses contribuiriam para a construção de um reservatório que colocaria fim aos problemas de estoque de lixo radioativo.

A ideia era cavar uma série de câmaras e dutos reforçados no interior da Yucca Mountain, localizada no estado de Nevada (EUA). Estas instalações abrigariam restos radioativos por 10 mil anos – depois deste tempo, níveis seguros de radiação iriam possibilitar o remanejamento do material.

A mitologia de Yucca Mountain

O projeto parecia promissor. E os US$ 30 bilhões arrecadados pelo Departamento de Energia dos EUA deveriam ser suficientes para construir o galpão de Yucca Mountain. Mas em 31 de janeiro de 1998, data de inauguração do Repositório de Lixo Nuclear de Yucca Mountain, um notícia infeliz veio à tona.

Menos de 10 km de dutos foram construídos (imagem acima).

Dos 65 km de túneis dedicados ao armazenamento de entulhos, somente 8 km foram construídos. Foi assim que Yucca Mountain se transformou em uma lenda: “o depósito para lixo nuclear que nunca existiu” ganhou as capas da mídia mundo afora. Em 2002, as taxas adicionais cobradas de cidadãos foram canceladas pela Justiça.

Mensagens para os homens do futuro



Fato é que o depósito não foi concebido sem tipo algum de planejamento. Em 1981, inclusive, uma força-tarefa apelidada de “Interferência Humana” formada por engenheiros, um arqueólogo, um linguísta e um especialista em comunicação não-verbal chegou a debater formas de se comunicar com os "seres humanos do futuro".

“Como manter as pessoas longe deste lugar ainda que a civilização como a conhecemos deixe de existir?”. Esta foi a pergunta que motivou a equipe de especialistas destinada a repelir seres humanos que se poderiam se aproximar de Yucca Mountain – afinal, a construção teria a duração mínima de 10 mil anos.

A montanha fica no estado de Nevada, nos EUA.

Investir em rituais que fazem menção ao local, criar tradições e até mesmo um folclore sobre a montanha foram algumas das sugestões feitas pelos pesquisadores. Um tipo de culto a corpos em torno da área poderia ser ainda feito. “Estes costumes não precisam falar sobre radiação; basta que a mensagem de ‘perigo’ seja passada”, comenta Thomas Sebeok, linguísta consultado pela “Interferência Humana”, segundo informa o site Gizmodo.

Em 1984, uma edição do Jornal de Semiótica da Alemanha publicou uma dúzia de artigos sobre o tema “formas de se comunicar com o futuro sobre o perigo radioativo de Yucca Mountain”. Dentre as mais bizarras propostas, destaca-se a criação de um “gato nuclear”. Por meio de técnicas de manipulação genética, bichanos mudariam de cor na presença de radiação baixa.
O exemplo de um “ancião”

Localizada na costa oeste de Washington, a Reserva Nuclear de Hanford produziu praticamente todo o plutônio que foi utilizado pelo arsenal nuclear dos Estados Unidos da América durante a Guerra Fria. O complexo foi então desativado – e o lixo fabricado pelo reservatório ainda está lá (56 milhões de litros de resíduos radioativos estão armazenados em quase 200 tanques de aço sob a terra).

Depósito de Hanford.

A limpeza da fábrica não foi completada até o ano de 2011. Isso prova que as lições do “reservatório ancião” precisam ainda ser entendidas. Acontece que o lixo de Hanford deveria ser derretido, misturado a vidro e ter sido então enterrado em Yucca Mountain. Isso não aconteceu, é claro, e Hanford é ainda um dos maiores exemplos do quão perigoso é estocar entulho nuclear.

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Pode ser que a mitologia de Yucca Mountain ganhe vida própria dentro de algumas dezenas ou centenas de anos. E pode ser, assim, que os seres humanos do futuro enxerguem as entranhas da fabulosa montanha apenas como outro de nossos incomensuráveis patrimônios históricos. Até lá, porém, nossos pesquisadores terão de se ocupar em encontrar soluções viáveis para o armazenamento de lixo nuclear sem se preocupar com cantigas sobre o "gato de olhos verdes comedor de orquídeas radioativas".

Ele existe!

Importante destacar que o depóstivo nuclear de Yucca Mountain existe. Em 2008, o governo de Barack Obama chegou a questionar a segurança do complexo (que fica a 145 km de Las Vegas). Ainda naquele ano, o limite temporário de armazenamento estabelecido ficou em 77 mil toneladas de lixo radioativo. A obra de Yucca Mountain não deverá ser totalmente finalizada antes de 2020.

A história completa de Yucca Mountain pode ser lida em publicação feita pela Method Quarterly.

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